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150 ANOS DE FÉ E DEVOÇÃO A MÃE ABADIA
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PE. EUSTÁQUIO

O Santuário de Nossa Senhora D’Abadia tem sua história registrada na vida de Pe. Eustáquio, quando chegou ao Brasil 25 de julho de 1925, veio para está Água Suja (Romaria). Nesta época a Paróquia do Santuário de Nossa Senhora D’Abadia tinham muitas comunidades e como também atendiam as paróquias vizinhas; Nova Ponte (São Miguel da Ponte Nova) e Indianópolis (Sant’Ana do rio das Velhas). Sendo pároco por vários anos nestas cidades que eram atendidas por ele e pelos Padres da Congregação dos Sagrados Corações.


Ainda estando nestas terras seu apostolado cresceu e já aparecem alguns milagres por ele, onde é chamado de taumaturgo (aquele que faz milagres).


“Buscando, se não completar, pelo menos oferecer uma ajuda à compreensão da figura do Servo de Deus, Pe. Eustáquio van Lieshout, de como ele viveu no período de seus cinqüenta e dois anos de vida, em íntima união com Deus, no amor a Deus e ao próximo, como também na prática das principais virtudes, em sua especial devoção aos Sagrados Corações, ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia e a São José. Tudo num verdadeiro espírito de oração, de autêntico e incansável apostolado, e numa humilde e fiel submissão às autoridades, tanto eclesiásticas como religiosas.

MEMÓRIA HISTÓRICA

Três são os períodos de tempo que podemos considerar em sua vida:

- Vida em família
- Vida religiosa: anos de formação religiosa
- Vida apostólico - missionária

O primeiro período compreende os anos da infância (nasceu no dia 3 de novembro de 1890, em Aarle-Rixtel, Holanda) e da primeira formação nas escolas elementares: um ano no Instituto de São José, dois anos na Escola Latina de Gemert, três anos no Seminário Menor dos Sagrados Corações (de setembro de 1905 a setembro de 1913).


O segundo período, tempo de formação religiosa, compreende desde o princípio do noviciado em Tremelo, 10 de setembro de 1913; os primeiros votos, 27 de janeiro de 1915; os votos perpétuos, em 18 de março de 1918; os estudos superiores: filosofia em Grave e Tilburg, teologia em Bavel, e a ordenação sacerdotal em 10 de agosto de 1919, em Bavel.
O terceiro e último período compreende o seu ministério apostólico:


- primeiro na Holanda (1919 a 1924): como ajudante do mestre de noviços, como capelão dos imigrantes de Valonia em Maasluis, e como vigário coadjutor na paróquia de Roelofarendsveen, diocese de Haarlem naqueles tempos.
- e depois no Brasil, aonde chega em 12 de maio de 1925, no Rio de Janeiro, até 30 de agosto de 1943, dia de sua morte.
- 15 de Julho de 1925: começa o seu primeiro trabalho apostólico em terras brasileiras, juntamente com outros dois companheiros: na Paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Romaria, pequeno povoado chamado naquele tempo de "Água Suja".

- 2 de março de 1926: assume como pároco de Romaria e de outras duas paróquias: São Miguel, de Nova Ponte, e Santana, de Indianópolis.

- 15 de fevereiro de 1935: é nomeado pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Poá (estado de São Paulo).

- 13 de maio de 1941 a 13 de outubro de 1941: escondido em obediência na Fazenda São José.

- 13 de outubro de 1941: no Colégio Dom Lustosa, em Patrocínio (MG).

- 12 de fevereiro de 1942: Trabalho provisório na Paróquia de Ibiá (MG).
- 7 de abril de 1942: nomeado pároco na Igreja de São Domingos, paróquia muito pobre, em Belo Horizonte.
- 30 de agosto de 1943: morte do Servo de Deus, em Belo Horizonte.

História de uma vida Santa

Quando se conhece um pouco da história da vida do Pe. Eustáquio van Lieshout se vê que de alguma forma ela manifesta a grandeza do homem que encontra o sentido de sua vida no doar-se pela causa do Reino, vivendo os valores evangélicos, o amor a Deus e ao próximo com simplicidade, generosidade e esquecimento de si mesmo. Esta foi a realidade da vida espiritual deste Servo de Deus: uma entrega total a Deus na intimidade da oração, no cumprimento de seus deveres sacerdotais e religiosos, num grande zelo pelo bem das almas, numa entrega total e desinteressada para com Deus no próximo, particularmente no próximo mais necessitado, mais pobre: "... porque este homem e este padre, de alma excepcional, repleta de caridade cristã, tinha o dom de congregar em torno de si os que sofrem e esperam, os que desejam servir a Deus e à sua Igreja, os que precisam de uma palavra de conforto e de orientação, os que querem servir ao seu próximo por amor a Deus".

A) Sua família


Sua família era do campo, muito religiosa, fiel e obediente à Igreja Católica. Morava no sul da Holanda, no Brabante. Seu pai era um homem do campo, tenaz, duro, perseverante e religioso. De sua mãe emanava algo especial: dedicada aos filhos, cheia de uma grande bondade e solidariedade para com os sofrimentos dos outros. "Trabalhar e rezar eram as duas coisas que se faziam na casa... éramos 11 filhos: 8 mulheres e 3 homens, 'dos quais um se tornaria sacerdote religioso e 3 entrariam no Convento', nas Irmãs de Schijndel"2. Os pais "eram respeitados e amados por todos os filhos". "Desta maneira criaram um ambiente agradável e sadio em torno da família, estreitando os laços de confiança e amor entre os pais e filhos, e incentivando o amor fraterno entre os filhos mutuamente".


Encontramos assim no ambiente familiar a base das virtudes do Servo de Deus: fé profunda e firme, confiança sem limites na bondade da Providência divina, amor sobrenatural para com Deus e seus mandamentos, obediência cega aos mandamentos da Santa Igreja, amor cristão para com o próximo através das obras de misericórdia.

É importante notar que essa piedade e religiosidade exemplares não são coisa exclusiva da família van Lieshout, mas de todos os católicos do Brabante.


Por isso, vivendo neste ambiente, não é de se estranhar que já nos primeiros anos de vida o Servo de Deus se manifeste amigo da oração e goste de ir à Igreja, como afirma sua irmã Faustina: "Ia contente à Igreja e num recanto escondido celebrava a seu modo a missa 'seca'. Tinha uns 8 ou 9 anos quando disse a um seminarista: 'eu também serei sacerdote'. O trabalho do campo não lhe interessava muito porque aspirava o sacerdócio".
O mestre Hamelinck dizia: "o jovem tem uma vontade de ferro", mas desaconselhou a seu pai levá-lo para estudar em Gemert "porque talvez não desse conta dos estudos".


Foi o coadjutor da Paróquia, Rev. Janssen, quem descobriu a sua possível vocação ao sacerdócio, e obteve do pai do Servo de Deus a permissão para levá-lo à Escola Latina de Gemert, aonde ia e vinha todos os dias caminhando a pé durante uma hora, e isto durante um ano e meio.


"Em Gemert, Huub (assim era chamado familiarmente, pelo nome de batismo, Humberto) encontrou um livrinho sobre o Pe. Damião de Veuster, e ficou impressionado com a sua vida".


É interessante, e creio que é necessário observar, como todos os testemunhos, tanto familiares como dos companheiros de estudo, falando da possível vocação do Servo de Deus, se referem unicamente a este fato da leitura da vida do Pe. Damião feita pelo Servo de Deus.


Aos 11 anos fez a sua primeira comunhão em Beck, em 1901.
O seu pai pensava nele como um possível ajudante na fazenda, e que mais tarde lhe sucedesse. Mas, não vendo nele um tal desejo, lhe disse um dia: "Eu esperava com entusiasmo que fosses um dia meu ajudante". Ao que ele respondeu: "Oh, papai, eu desejo tanto ser sacerdote".

B) No Seminário dos Sagrados Corações


"No dia 25 de setembro de 1905 iniciou os seus estudos no seminário menor dos Padres dos Sagrados Corações, em Grave. Tinha uns 15 anos. Teve que estudar muito para passar nos exames. Certamente não era um dos melhores da sala... mas os seus esforços eram patentes a todos, como também a sua piedade exemplar e o seu grande espírito de oração". "O superior dizia sempre: não vai bem nos estudos, mas o seu zelo repara tudo". E ele sofria muito, não porque não pudesse suportar a humilhação, mas porque temia não poder chegar a ser sacerdote.


Manteve-se firme neste desejo de tornar-se sacerdote em meio às dificuldades e à opinião de seu pai que, embora não o impedindo, reconhecia a sua debilidade nos estudos para chegar ao seu intento. Por isso, quando um dia disse ao filho: "Filho, você não pode com os estudos", obteve a seguinte resposta: "eu farei o melhor que puder, mas devemos ter mais confiança em Nosso Senhor e as coisas vão melhorar"... "esta confiança em Nosso Senhor era uma característica sua. Desde jovem vivia em intimidade com o Senhor".


Sua devoção à Virgem Maria era visível naqueles anos, e a expressou construindo no jardim da casa paterna uma pequena gruta para Nossa Senhora de Lourdes, onde ele mesmo rezava diante da imagem, obrigando suas irmãs a fazerem também o mesmo.
Desde que entrou no noviciado "mostrou-se um noviço exemplar e inteiramente dedicado à obra de sua Congregação, a serviço dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria na Congregação". O mestre de noviços e seus companheiros de noviciado o admiravam como um noviço exemplar e generoso. A sua seriedade e o seu recolhimento eram notáveis.


Quando o noviciado foi interrompido, por causa da invasão dos alemães, e os noviços voltaram às suas famílias, o irmão Eustáquio preferiu permanecer num ambiente de claustro em lugar de voltar para a casa paterna. Por isso pediu alojamento no convento religioso de Beck, onde residia uma de suas três irmãs religiosas, e o obteve. O Servo de Deus reconhecia que no convento poderia viver melhor a sua vida espiritual, ao mesmo tempo que poderia fazer algo de bem entre os velhinhos e os enfermos hospitalizados no Instituto anexo, coisa que já tivera oportunidade de fazer alguma vez durante as suas férias. "Empregava seu tempo na oração, no estudo e nas visitas aos enfermos do hospital, para exercitar-se em fortalecer-se para a sua vida de missionário, como ele próprio dizia. Quando chegou de Grave a notícia de que se havia aberto o noviciado, sentiu-se feliz porque poderia voltar ao seu convento".

"Eu vivi com o Pe. Eustáquio no noviciado e tive sempre a impressão de que se encontrava aí perfeitamente bem e contente. Creio que não teve que mudar muito em sua orientação pessoal. Era, como sempre, sério e muito religioso. O noviciado não foi para ele uma vida completamente nova e diferente. Cumpria muito fielmente os seus deveres, incluindo os seus deveres espirituais".


O servo de Deus, depois do tempo transcorrido no noviciado, pronunciou os votos simples de pobreza, castidade e obediência, como religioso candidato ao sacerdócio, na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, "em cujo serviço quero viver e morrer", como ele expressou segundo a fórmula de Profissão Religiosa da Congregação.


Em uma carta aos seus pais e irmãos, escrevia a propósito da Profissão Religiosa: "aquele foi um dia que ninguém poderá tirar da minha memória. Pode ser comparado ao dia da minha Primeira Comunhão, mas em certo sentido foi muito melhor, pois na Primeira Comunhão nós recebemos Nosso Senhor, e agora por outro lado nós nos damos a Ele".


"Eustáquio levava muito a sério a vida religiosa. Isto se via claramente em sua fiel observância às prescrições da Regra e ao regulamento. Desde este ponto de vista, ele era um exemplo para todos nós. O que mais me chamava a atenção nele era a sua profunda piedade. Esta podia ser notada também exteriormente... Sabíamos que seu comportamento era a expressão natural de seu estado de ânimo interior... Durante o recreio se mostrava um companheiro amável. Era, no meu modo de ver, tímido por natureza, manifestava com decisão sua opinião, mas evitava toda tipo de disputas acaloradas".


"Com relação a seu caráter posso dizer que era verdadeiramente um bom companheiro: alegre, e que sabia aceitar brincadeiras. Era vivo, e ás vezes podia reagir bruscamente. Era muito querido pelos outros companheiros... Era sem dúvida um jovem bom, com uma piedade sadia e sem nenhum fanatismo...".
Em fevereiro de 1916 foi para Ginneken, onde estudou teologia até 1919: "no princípio o irmão Eustáquio era um estudante fraco. Tinha pouca memória e pouca inteligência para as questões metafísicas. Mas pouco a pouco conseguiu uma intuição teológica. Seu critério nas questões práticas pastorais era mais que suficiente... Não foi nenhum problema para os professores admiti-lo à ordenação por causa de sua capacidade intelectual. O Servo de Deus era um religioso fervoroso e zeloso... O que sobretudo chamava a atenção no Servo de Deus era a sua devoção ao Santíssimo Sacramento. Na capela era sempre digno de ver o seu comportamento religioso: suas devotas genuflexões, o permanecer continuamente de joelhos sem apoiar-se nos cotovelos. Dava a impressão de ser um irmão que sabia rezar. Fazia freqüentemente a 'Via-sacra', dando também neste piedoso exercício a impressão de rezar tranqüila e devotadamente"

Pe. Gil van Boogaart conta um pequeno episódio referente à sua dificuldade nos estudos, onde se manifesta em quem se fiava e onde punha a sua confiança: "nos três dias que precediam os exames, ele dedicou-se a fundo, mas diante da dificuldade que experimentava, esteve a ponto de desanimar; fechando os livros saiu para rezar".

"Era tido pelos professores e colegas de Seminário Maior como um confrade muito bom. Sua vida de piedade era ótima. Quanto às suas práticas de piedade preferidas, pelo que ouvi dizer, eram a Sagrada Escritura e o Rosário".19 "Era afável, bom colega e espirituoso. Era de uma estabilidade emocional muito constante, de modo que não se assinalava a ocorrência de altos e baixos"20. "Como jovem, Berto era sereno e tranqüilo, e mais tarde, sendo estudante, era muito sério. Quando o encontrei sendo já sacerdote me chamou a atenção o seu zelo pelas almas".

"O irmão Eustáquio mantinha-se muito fiel em seus exercícios, e propagava sempre entre nós a devoção a Maria. Havia colocado uma imagem de Maria no jardim de Ginneken, e nos levava ali freqüentemente, à tarde, para cantar um hino à Virgem ou para recitar algumas Ave-Marias. Isso vindo dele, era aceito".

Preparou-se conscientemente para o sacerdócio. "Desejava muito a sua ordenação, mas sem temor". "Aproximou-se à ordenação com um desejo ardente, serenamente e sem incertezas. Quando por fim chegou o dia da ordenação de nosso irmão, foi para ele e para nós um dia inesquecível..., isto se vê nas cartas que recebemos dele antes e depois da ordenação. Pedia a nossa oração, e contava com ela." Um mês antes da ordenação escreveu à sua irmã Faustina: "Sinto-me feliz e também vejo-te feliz ao saber que conseguistes obter a graça pela qual rezastes ardentemente. Quão grande deve ser também a felicidade de nossos pais! Peço-vos, minhas irmãs religiosas, que sejais durante toda a minha vida sacerdotal o meu Moisés sobre a montanha. Fazendo isso, dais a vossa vida e os vossos trabalhos pelo êxito feliz do meu ministério sacerdotal. Lembrai-vos, queridas irmãs, que isso será para vós uma obra proveitosa, como também para mim e para todos. Sede todas juntas apóstolas, apóstolas pela oração e pelo amor".


No dia 10 de agosto de 1919, na capela do Escolasticado de Teologia de Ginneken, o Servo de Deus recebeu, com outros sete companheiros, a ordenação sacerdotal. "Sua primeira missa solene foi celebrada na paróquia paterna de Beck e Donk, no dia 15 de agosto. Estavam presentes, com alegria, todos os seus familiares e quase todos os habitantes do seu povoado... Demorava muito tempo na celebração da missa, especialmente no princípio; o próprio povo também afirmava isso, mas acrescentava: "mas não é cansativa". Permaneceu em casa alguns dias, ajudando o pároco na assistência aos enfermos, e esteve uma semana no convento de nossa irmã".

Concluía assim a preparação para a vida apostólica durante os anos de formação; preparação caracterizada por sua generosidade, pelo seu espírito alegre e afável, por sua piedade, seu grande espírito de oração, de mortificação e seu grande amor aos Sagrados Corações e ao próximo, enfermo e que sofre. Chegou a entender e a viver intensamente os valores da piedade, da humildade e da caridade.


Quando o Servo de Deus, Pe. Eustáquio van Lieshout, acabou este período de sua vida, isto é, o tempo da formação religiosa e sacerdotal, podemos notar que naquele tempo a Congregação dos Sagrados Corações, através do seu centro de espiritualidade, propagava a devoção ao Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, com uma profunda devoção ao Santíssimo Sacramento, evidenciada no exercício da adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, exercício que não se interrompia nas grandes comunidades, como nas casas de formação. Também a devoção a São José, patrono principal da Congregação, era comum em nossas comunidades.


A respeito do Servo de Deus, Pe. Eustáquio van Lieshout, podemos dizer claramente que durante toda a sua vida, no tempo de sua formação cristã e religiosa-sacerdotal, soube encarnar em sua própria vida os ideais de sua Congregação, de modo eminente e com o reconhecimento de seus superiores, professores, companheiros de Congregação e familiares:


- Amor a Deus, manifestado no amor à humanidade de Cristo na devoção ao Sagrado Coração e ao Santíssimo Sacramento, diante do qual permanecia horas e horas em profundo recolhimento.
- Amor a Deus que se manifestava no cumprimento exato de seus deveres espirituais, religiosos e sacerdotais.
- Amor a Deus e ao próximo manifestado em sua entrega generosa pelo próximo, particularmente pelos mais fracos, os doentes e os que sofrem, e em suas visitas aos hospitais.
- Amor a Deus e ao próximo com o seu grande zelo pelo bem das almas.
- Amor a Maria, Mãe de Deus, em sua íntima devoção ao seu Imaculado Coração, devoção que ele tanto propagava e infundia nos corações e nas almas.

Tudo isso o Servo de Deus soube viver e encarnou em sua própria vida durante a sua formação, e o viverá depois ampla e intensamente durante a sua vida apostólica e missionária, com grande fidelidade a todos os seus deveres sacerdotais e religiosos, com grande submissão e exemplar obediência às autoridades eclesiásticas e religiosas, e com grande simplicidade e humildade, mesmo nos momentos verdadeiramente difíceis para ele e para as autoridades, como aparece claramente nos testemunhos, documentos e escritos do Servo de Deus.

C) Ministério Apostólico:


a) Na Holanda (1919-1925):
Nos primeiros meses de seu sacerdócio foi nomeado ajudante do Mestre de Noviços, mas pouco depois foi nomeado capelão dos imigrantes de Valônia, na Bélgica, que trabalhavam numa fábrica de vidros em Maasluis, Holanda. Situação de verdadeira pobreza, de gente trabalhadora, onde o vício reinava por toda parte. Ele, com coragem, soube ganhar a estima e o respeito dos operários, conseguindo com a graça de Deus colher frutos abundantes e extraordinários entre eles, tanto que recebeu uma medalha por seus méritos do rei da Bélgica, Leopoldo III.

1. Segundo a opinião do Pe. Gil van de Boogaart,seu provincial no Brasil, "foi precisamente neste lugar onde decidiu não beber mais bebida alcoólica, decisão à qual foi fiel durante toda sua vida".


2. Em 1922, fechada a fábrica, foi transferido para a paróquia de Roelofarendsveen como coadjutor do pároco. Ali dedicou todo o seu tempo a um verdadeiro apostolado entre as famílias cristãs da paróquia. Visitava as famílias, difundindo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus através da entronização da sua imagem nos lares, consagrando-os ao serviço de Deus e da Santa Mãe Igreja. Foram principalmente os pobres e os enfermos os que conseguiram conquistar o compassivo coração do Servo de Deus, sendo por isso muito procurado pelos enfermos e pelos que sofrem. Organizava com êxito peregrinações e reuniões da Ação Social Católica. Foi muito estimado e querido pelo povo, exercendo nele uma influência espiritual extraordinária. Devido ao seu zelo ardente recebeu de seu pároco o título de "raptor animarum" ("ladrão de almas").


"Manifestava seu ardente amor por Maria em suas fervorosas pregações, nas quais animava os que o escutavam a honrá-la e a invocar sua ajuda e intercessão".
Mas as missões o atraíam de modo particular, tanto que num certo dia foi nomeado para o Brasil, onde chegou em 1925, "realizando assim o seu ideal missionário". "O Pe. Provincial propôs ao seu Conselho enviar também o Pe. Eustáquio por causa do seu zelo sacerdotal e dos resultados já obtidos; ele oferecia uma suficiente garantia de poder trabalhar bem lá. Eu estava presente nesta deliberação, como membro do Conselho Provincial. Estivemos de acordo unanimemente em reconhecer que tínhamos feito uma boa escolha".

b) No Brasil (1925-1935):
Chegado ao Brasil com outros dois companheiros, Pes. Matias e Gil van den Boogaard, que será o seu Pró-Provincial, foi-lhe confiada como primeira missão:

1) a Paróquia de Água Suja:


Tratava-se de um pequeno povoado, situado no interior do Estado de Minas Gerais. Região pobre, com escassez da maioria dos recursos materiais. O povo vivia quase exclusivamente da sorte dos "garimpos", da busca de ouro. Gente desconfiada, reservada com relação aos de fora e em especial com os padres vindos do estrangeiro. O povo era especialmente desconfiado por causa da experiência negativa com o sacerdote precedente. O Servo de Deus compreendeu logo que o que era necessário fazer em primeiro lugar era ganhar a confiança do povo para poder trabalhar em seu ministério. Seu método será: visitar os pobres, os que sofrem, consolar as almas fortalecendo-lhes o ânimo, tentando estar presente nos problemas familiares. Como o Bom Pastor, busca conhecer as suas ovelhas e permitir que elas também o conheçam, disposto a dar-se totalmente para transformar aquela realidade. Não economiza esforços e sacrifícios para educar e doutrinar o seu pobre rebanho. Mostra-se claro e exigente nos deveres cristãos e na fidelidade às normas da Igreja. Organiza em todos os níveis a participação do povo: catequese, juventude, peregrinações, festas, associações, etc. Serve-se de todos os meios e recursos para chamar a atenção do povo e criar mecanismos de evangelização. O povo vai respondendo gradativamente, vendo no Servo de Deus um homem dotado, serviçal, atento às suas necessidades espirituais e materiais. Não lhe faltarão oposições de quem não compreende ou não quer compreender para não ter que mudar a própria situação cômoda.


Em seu ministério terá um afeto especial para com os pobres. Tem compaixão pelos que sofrem, identifica-se com os sofrimentos do povo. Compaixão que não se limita ao sentimento, mas a partilhar o sofrimento e a transformá-lo. Está convencido do poder transformador de Deus. É Ele quem "cura" os homens por meio dos homens. Observa os sinais dos tempos e procura encarnar o Evangelho e seu carisma pessoal - sua identificação com o carisma do fundador - nesta situação concreta.


É notável o comportamento do povo quando o Servo de Deus lhe anuncia que era necessário deixá-los porque os seus superiores o transferiam para outra missão. O povo usou todos os meios (manifestações públicas, bloqueio das ruas...) para evitar a saída do padre. Tal comportamento é o reflexo da presença do homem que faz brotar a vida nas celebrações, nos diferentes serviços de acolhida, na ajuda ao povo, no dar liberdade ao que sofre e consolo aos enfermos. Não querem perder este instrumento de Deus, que está fazendo entre eles verdadeiros "milagres" na acolhida da Palavra de Deus, do espírito da Igreja, do sentido de participação comunitária, que vai transformando a realidade do seu povo.

2) Pároco em Poá (1935-1941):

"Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu" (Mt 5,13-16).
Com a mesma entrega e humildade começa a sua nova missão, num ambiente de religiosidade muito frio, com grande presença de protestantes e aumento contínuo do espiritismo.


Os caminhos do Senhor são desconhecidos e seu espírito sopra quando e onde quer. Ninguém poderia imaginar que essa luz, que havia se manifestado intensamente nas terras de Minas Gerais, iria aumentar a sua luminosidade e ser um centro de penetração e de irradiação tão grande. Através da sua entrega ao povo, e especialmente através das suas bênçãos e visitas aos enfermos, da sua firmeza na defesa dos princípios evangélicos, da tradição da Igreja e radical oposição ao espiritismo, ele é instrumento de conversões, de crescimento na participação na vida da Igreja e do fluxo de peregrinos de todas as partes para receber uma bênção sua. Este homem, totalmente entregue à sua missão, passa a ser reconhecido pelo povo como "santo". O povo tem sede de Deus, de um Deus vivo, que participe de seus problemas, que os liberte de suas opressões, que cure as suas enfermidades. E assim lemos no Evangelho: "À tarde, depois do pôr do sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que estavam possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu na frente da casa. Jesus curou muitas pessoas de vários tipos de doenças e expulsou muitos demônios. Os demônios sabiam quem era Jesus, e por isso Jesus não deixava que eles falassem porque o conheciam", pois tinha compaixão de seus sofrimentos: "um leproso chegou perto de Jesus e pediu de joelhos: se queres, tu tens o poder de me purificar". Jesus encheu-se de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: "Eu quero, sê purificado" (Mc 1,40-42). O mesmo ocorria, em parte, com o Pe. Eustáquio. E a quantidade de gente que vinha ao encontro do Pe. Eustáquio era tão grande que provocava problemas de ordem social. Não era possível acolher tanta gente sem causar transtornos, tanto para as autoridades civis como para a caminhada da própria paróquia.


E ainda: "Alguns dias depois Jesus entrou de novo na cidade de Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que Jesus estava em casa. E tanta gente se reuniu aí que já não havia lugar nem na frente da casa" (Mc 2,1-2). "Jesus saiu de novo para a beira do mar. Toda a multidão ia ao seu encontro. E Jesus os ensinava" (Mc 2,13). Jesus vai anunciando e realizando o projeto do Pai, vai manifestando que Ele é o Messias; é o ato de fé num profeta, num Messias, que faz o povo segui-lo e confiar em seu poder libertador. Outros o seguem por curiosidade ou para provocar situações contra ele, para colocá-lo à prova, para atacar alguma coisa de sua doutrina. Mas Jesus continua fiel na realização da Vontade do Pai, anunciando a Boa Nova.

E sobre o Pe. Eustáquio se lê:


"O movimento extraordinário, a atividade e fama de santidade do Servo de Deus em Poá e São Paulo, era o assunto da redondeza e objeto de muitas reportagens exageradas nos jornais. Causava também, naturalmente, controvérsias entre o clero secular e regular, e atraía o interesse das autoridades eclesiásticas e civis. Muitos sacerdotes visitavam o Servo de Deus e eram atendidos por ele com distinção e preferência. Outros sacerdotes e até bispos encaminhavam enfermos de suas relações a Poá, com cartas de recomendação ao Servo de Deus".


Fizeram-se investigações por parte das autoridades civis e eclesiásticas, mas não se encontrou nada que pudesse censurar a pessoa ou os métodos do Servo de Deus. O próprio arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar de Fonseca e Silva, declarou que: "o Servo de Deus Padre Eustáquio nada fazia de censurável, mas tudo fazia de acordo com as leis da Santa Mãe Igreja, dando bênçãos litúrgicas dentro do ritual romano e aplicando os sacramentais da Igreja. Pregando contra a heresia do espiritismo, o Servo de Deus convertia pecadores, conseguindo a volta de apóstatas e indiferentes à Igreja e à prática da religião".


Não obstante tudo isso, as autoridades eclesiásticas e civis, pondo-se de acordo, decidiram remover o Pe. Eustáquio de Poá. O seu superior religioso, considerando-o "cansado", propôs-lhe tomar um tempo de férias. O Servo de Deus partiu de Poá para evitar desordens como as que havia ocorrido em Água Suja.
Viajou por diversas cidades, onde era conhecido e assediado pelo povo, que solicita bênçãos e cura para os seus enfermos.


Convidado por amigos chegou ao Rio de Janeiro. O Cardeal Arcebispo Dom Sebastião Leme concedeu-lhe plenos poderes para exercer o ministério, mas com uma advertência: "quando os jornais começarem a fazer reportagens, quando o povo começar a descer dos morros, neste caso tudo poderá acontecer, e então o Pe. Eustáquio deverá partir imediatamente". O Servo de Deus exerceu o seu ministério procurando evitar toda publicidade a respeito da sua presença no Rio, mas colocando à disposição do povo os dons que o Senhor lhe havia concedido para ajudar ao próximo. A massa do povo começou a mover-se, e com os meios de comunicação dando ênfase aos acontecimentos, ocorreu que em pouco tempo o Servo de Deus teve que deixar às pressas a cidade do Rio de Janeiro.

3) Na "Fazenda São José":

Pe. Gil, seu pró-provincial, encontrou uma maneira de subtraí-lo às multidões escondendo-o na fazenda de um amigo, no interior do Estado de São Paulo. Este tempo de solidão, sem poder exercer o ministério, seu ideal apostólico e missionário, para o qual Deus o havia chamado, o inquietou e fê-lo sofrer. Esteve aí uns cinco meses. Escreveu à Holanda, ao seu provincial, pedindo que o transferisse para outro país, como Argentina, Chile, Portugal, onde a Congregação estava presente e onde não havia o perigo de ser reconhecido por sua fama. Aquele isolamento o fazia sofrer e o impedia de realizar a missão para a qual estava convencido de ser chamado e escolhido. Assim escreve a seu superior em 25 de julho de 1941: "ouvira e sentira a voz de Deus dentro de sua alma, falando-lhe e ordenando-lhe a combater o espiritismo pela oração, pregação, ministério sacerdotal e pela prática da caridade cristã, principalmente para com os doentes, os pobres e os sofredores na vida". Em meio àquela angustiosa situação manifestou uma total confiança no que os seus superiores lhe mandaram. Demonstrou um grande sentido de obediência, convencido de que Deus se manifesta através dos superiores, e que eles, com seu dom de discernimento, podem ver o que é melhor para a missão da Igreja. Com seu dom carismático, ajuda a ver e ler nos sinais dos tempos o perigo do crescimento do espiritismo, que ele via como um perigo atual e que poderia agravar-se no futuro. Denunciou este problema e quis combatê-lo proclamando sem medo o Reino de Deus e suas exigências.


O bispo de Campinas, Dom Francisco Barreto, o convidou para trabalhar em sua diocese, mas o povo o reconheceu novamente, atribuindo-lhe curas, fruto de suas bênçãos. Começou novamente a grande afluência de gente, e foi necessário retirar-se à solidão na "Fazenda São José". Antes de retirar-se, escreve às autoridades que haviam ficado descontentes com sua reaparição: "eu não pedi para ir a Campinas. Levaram-me com autorização do meu superior. Não estão satisfeitos? Se se referem às circunstâncias, ao barulho e à publicidade, estou de acordo, pois tudo isso deve ser evitado a qualquer preço... mas se se referem aos fatos... estes estão nas mãos de Deus e não é necessário que as autoridades fiquem ou não satisfeitas com eles"

Enquanto isso (cinco meses: de 13 de maio a 13 de outubro de 1941), o Servo de Deus, homem de profunda espiritualidade, se dedicou à vida interior, a aumentar a sua união com Deus, a discernir aquilo que Deus queria dele, e a cumprir fielmente a sua vontade, que se manifestava através dos superiores, tudo para o bem da Igreja e do seu povo. A convite do dono da fazenda, atendia a alguns enfermos e celebrava a santa missa para o pessoal da fazenda.

4) No Estado de Minas Gerais:

Em outubro de 1941 os superiores o transferiram para Patrocínio, onde deixaram-no começar de novo o seu ministério, e depois também numa outra cidade próxima, Ibiá, mas em ambas com certas cautelas e condições, como exercer o ministério somente na Igreja e em determinadas horas e somente dar bênçãos no confessionário, coisa que ele observou com rigorosa obediência.

5) Paróquia São Domingos, em Belo Horizonte:

Finalmente, o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, ofereceu à Congregação dos Sagrados Corações, e expressamente ao Pe. Eustáquio, uma paróquia na periferia de Belo Horizonte. No dia 2 de abril de 1942 tomou posse da paróquia chamada "São Domingos". Ali começou de novo o seu trabalho com a ajuda do Pe. Hermenegildo. Pouco a pouco e com a permissão dos arcebispo, que acompanhava de perto e com admiração a obra do Pe. Eustáquio, os seus serviços se estenderam a outras paróquias da cidade. O Servo de Deus se tornou instrumento de conversões, de crescimento espiritual e reforço da fé: sua obra evangélica, espiritualidade profunda, confiança absoluta na presença de Deus, que lhe deu novo entusiasmo e novas forças, que o inspirou e concedeu dons extraordinários, como curas, fizeram correr a fama de sua santidade. Começou a construção de uma grande igreja, dedicada aos Sagrados Corações. Estava sempre disponível ao serviço do povo. Tinha um cuidado especial com os pobres e os enfermos. Não tinha tanto cuidado com a sua própria saúde. E em certo momento contraiu a enfermidade do tifo exantemático, que o fez sofrer muito e o levou a uma morte prematura no dia 30 de agosto de 1943. Não havia passado nem um ano e meio de sua chegada.

Quando os meios de comunicação deram a notícia de sua morte, uma verdadeira multidão lotou os arredores do sanatório onde ele havia falecido. Seu funeral foi acompanhado por uma enorme multidão que veio de todas as partes da região para dar o último adeus a quem havia sido para eles uma presença de Deus em meio ao seu povo. Essa peregrinação ao seu sepulcro continua ainda hoje, porque o povo conserva em sua memória as virtudes do Servo de Deus e a sua fama de santidade”.

Nota:
- Dados Extraídos do livro: Espiritualidade do Pe. Eustáquio Van Lieshout ss.cc. de Pe. Angel Lucas ss.cc. Tradução de Pe. Walterson José Vargas, ss.cc. ,2003
- Santuário Nossa Senhora da Abadia “Livro de Tombo”.

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